Homeschooling e finanças (1)


Dias atrás, recebi aquela que foi, muito provavelmente, a mensagem mais grosseira já escrita e entregue a mim nestes dois anos de blog. Nela, uma senhora que eu não tenho a menor ideia de quem seja, dizia que minhas críticas à escola baseavam-se no fato de eu ser rica, de eu ter um marido rico e, portanto, não precisar trabalhar, podendo, então, ficar com as crianças em casa*. Quem me conhece, bem... não preciso nem comentar, não é, pessoal? Risadas à parte, achei que as grosserias ditas serviriam como um bom ponto de partida para uma questão importante: Como ser uma família homeschooler não sendo rica. Aliado a isso, tenho também algumas alunas do curso "De volta ao lar" que desejam sair do mercado de trabalho e temem pela saúde financeira de suas famílias. Por conta desta combinação de fatores é que agora escrevo.

Primeiro, gostaria de falar um pouco a respeito de minha saída do mercado de trabalho. Convém dizer que meu retorno ao lar não foi fruto de uma nova compreensão a respeito da importância do meu papel de mãe. Não, infelizmente. Quando saí do meu último emprego, deixei-o para não colocar em risco a gravidez do Benjamin. À época, Chloe já tinha 4 anos e frequentava a escola, de modo que, até aquele momento, éramos o que se pode chamar em nossos dias de "uma família normal". Todavia, o ambiente em que eu trabalhava tornou-se a tal ponto estressante que Gustavo disse-me para sair. Não sabíamos como iríamos nos manter financeiramente. Apenas sabíamos que mais importante do que nos preocuparmos com o dinheiro era o zelarmos pelo nosso filho.Obviamente ficamos bem apertados, inseguros e Chloe perdeu a bolsa parcial que possuía na escola particular que frequentava. Mas Benjamin veio e está conosco, graças a Deus. :)

A partir daí o que parecia ser um arranjo temporário começou a mostrar-se como definitivo. O ritmo na nova escola da Chloe exigia que eu desse um reforço em casa. E eu cada vez mais rejeitava a ideia de enviar o Benjamin a uma escolinha. Mesmo a Chloe só foi à escola por muita insistência de sua parte e aos 4 anos de idade. Como, então, deixar aquele bebezinho lindo, totalmente vulnerável e ainda incapaz de explicar o que lhe acontecia ao cuidado de terceiros? Não, muito obrigada.

Por fim o homeschool tornou-se uma realidade para nós e nossa situação financeira adquiriu um novo sentido. Sempre vivêramos apertados, sempre moráramos de aluguel, sem poupança, sem carro, sem viagens, sem plano de saúde, sem roupas de marca, sem luxo algum, mas, agora, como o foco de nossa atenção deixara de ser o dinheiro, o trabalho, a manutenção, a aquisição e passara a ser a educação da nossa família, viver com pouco tornara-se uma decisão, o preço a ser pago para que pudéssemos estar mais próximos uns dos outros e ajuntando coisas mais importantes do que aquelas que o tempo corrói.

O surpreendente nisso tudo, no entanto, não foi o nos conformarmos em viver assim, de maneira tão frugal. O mais surpreendente nisso tudo foi o quanto Deus começou a nos abençoar, inclusive financeiramente, depois que paramos de nos preocupar excessivamente com nossa subsistência. Como contei em outro post, recentemente passamos por mais uma grande transformação em nossa família: mudamos de cidade, Gustavo mudou de emprego e as crianças mudaram de professor. ;) Claro, faz pouco mais de 3 meses que vivemos assim. No entanto, qualquer um de nós, se questionado a respeito das mudanças, dará a mesma resposta: Tudo está muito melhor, em todos os sentidos.

Eu não tinha como saber que este seria o rumo que minha vida e a vida de minha família tomaria. A única coisa que eu sabia era que a vida das pessoas que eu amo é muitíssimo mais importante e valiosa do que qualquer salário em qualquer emprego. Assim, creio que ao hierarquizarmos corretamente as coisas (pessoas primeiro), em acordo sincero e profundo com o marido, moldando nosso consumo à nova realidade, e, sobretudo, confiando na providência divina (pois cremos estar fazendo a coisa certa no momento certo - pois há um tempo e um modo certo para todas as coisas), tudo se encaminhou e, se Deus quiser, continuará se encaminhando, da melhor maneira possível. Em outras palavras, creio ser perfeitamente possível uma vida digna como homeschooler, no Brasil, desde que algumas condições sejam preenchidas: o acordo genuíno entre os cônjuges, um estilo de vida condizente com a renda e o descanso na providência divina.

Prosperidade financeira não é nem nunca foi sinal da bênção de Deus. Se assim fosse, todos os crentes deveriam ser como o próprio Rei Salomão, bem como todos os incrédulos seriam mendigos. No entanto, sabemos que as coisas não são assim e que há gente próspera e minguada em ambos os grupos. Assim, nossa confiança não pode estar assentada sobre indícios materiais, mas sobre a convicção de estarmos vivendo em obediência à vontade de Deus, de acordo com os seus mandamentos e à luz da interpretação da santa da tradição. Isso é construir a casa sobre a rocha. Nada mais.


(Na segunda parte do post "Homeschooling e finanças" darei algumas dicas práticas para aquelas famílias que querem a mãe de volta ao lar e precisam aprender a viver com um orçamento mais curto. As mesmas dicas servirão também a quem precisa conseguir economizar mais.)

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* É impressionante como algumas pessoas não avaliam aquilo que lêem ou escutam com base na realidade, se aquilo é verdade ou não, mas com base no pretenso poder aquisitivo de quem escreve ou fala. Neste caso específico, é como se eu só pudesse criticar os problemas decorrentes da escolarização compulsória se fosse pobre, pois a riqueza que me é atribuída (e que eu não possuo) me desautorizaria por completo. Entenderam? Na cabeça da pessoa que me criticou (e na de muitas outras), uma pessoa com uma condição financeira melhor ou mesmo rica não sabe e não pode saber das coisas, não enxerga os problemas e, sobretudo, é, de um modo bastante estranho e confuso, culpada. É como se por debaixo do "argumento" estivesse implícito um: "Cale a boca, riquinha! Você não sofre nem nunca sofreu! Feche a sua boca pois você não sabe de nada." A pobreza torna-se, então, pré-condição para a posse da verdade e da virtude. Dou um doce para quem adivinhar quem é o pedagogo favorito desse pessoal. :p

FONTE: https://encontrandoalegria.blogspot.com.br/2015/05/homeschooling-e-financas-1.html?m=1#comment-form

Por que não mandar nossos filhos para a escola, no Brasil?